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Arquivo do mês: novembro 2011

Projeto alternativo é novo aliado contra o enfraquecido AI-5 Digital

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O fim de ano traz duas ótimas notícias para a luta contra o vigilantismo na Internet: a paralisação do AI-5 Digital e a apresentação de um projeto de lei de cibercrimes alternativo. Para quem acredita, pode agradecer o Papai Noel pelo presente adiantado.

Hoje, dia 29/11/2011, o projeto de cibercrimes conhecido com o AI-5 Digital foi mais uma vez retirado de pauta na Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados. Com essa nova “não votação”, fica mais forte a impressão de que a Audiência Pública e o Seminário conseguiram demonstrar de forma inegável todos os perigos e problemas do PL 84/99. E a insistência do Deputado Eduardo Azeredo vai perdendo apoio.

Some-se a isso que ontem, terça-feira, foi apresentado na Câmara um novo projeto de lei “sobre a tipificação criminal de delitos informáticos”. O PL 2793/2011 vem assinado por Paulo Teixeira, Luiza Erundina, Manuela D´Àvila, João Arruda, Brizola Neto e Emiliano José, parlamentares que têm se destacado na defesa dos direitos e garantias de quem usa a Internet.

Mais do que a confiança nesse grupo, uma primeira leitura do texto proposto confirma a convicção de que é possível combater ilícitos sem prejudicar todo o potencial criativo da Internet. E como laço no presente, os motivos quem dão suporte ao projeto afastam qualquer dúvida de que se trata de uma inciativa que merece aplausos não apenas da turma que se mobilizou contra o vigilantismo, mas de toda a sociedade brasileira.

Reproduzo abaixo o inteiro teor da justificação que acompanha o PL 2793/11, que já pode ser considerado a nova arma contra o Ai-5 Digital:

São inegáveis os avanços para a sociedade decorrentes do uso da Internet e das novas tecnologias. Estes avanços trazem a necessidade da regulamentação de aspectos relativos à sociedade da informação, com o intuito de assegurar os direitos dos cidadãos e garantir que a utilização destas tecnologias possa ser potencializada em seus efeitos positivos e minimizada em seus impactos negativos. Nesta discussão, ganha relevo constante, sendo objeto de amplos debates sociais, a temática da repressão criminal a condutas indesejadas praticadas por estes meios.

Dentre os inúmeros projetos que abordam a matéria, encontra-se em estado avançado de tramitação neste Congresso Nacional um projeto de lei – o PL 84/99, de autoria do Deputado Luiz Piauhylino – que tem por objeto a tipificação de “condutas realizadas mediante uso de sistema eletrônico, digital ou similares, de rede de computadores, ou que sejam praticadas contra dispositivos de comunicação ou sistemas informatizados e similares”. Tal projeto, aprovado no Senado Federal em 2008, na forma de um substitutivo, encontra-se em tramitação final nesta Câmara dos Deputados.

A nosso ver, o PL 84/1999, em sua redação atual, traz propostas de criminalização demasiadamente abertas e desproporcionais, capazes de ensejar a tipificação criminal de condutas corriqueiras praticadas por grande parte da população na Internet. Leia o resto deste post

Brasil: Projeto de lei de cibercrimes restringe direitos fundamentais e liberdade na Internet

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Postado originalmente por Ellery Biddlee em 8 de novembro de 2011 no Global Voices Advocacy, e traduzido de forma colaborativa.

Tramitando na Câmara dos Deputados, o projeto de lei de cibercrimes pode criminalizar práticas online cotidianas e pode provocar uma abrupta mudança de direção no ambiente das políticas digitais progressistas do Brasil. O Comitê de Ciência e Tecnologia (CCTCI) irá votar o projeto no dia 9 de novembro de 2011.

Com base no projeto de lei, PL 84/99, patrocinado pelo Deputado Eduardo Azeredo, Cortes poderão aplicar penalidades criminais para atividades como troca de arquivos, comunicações peer-to-peer, e o uso honesto de trabalhos com copyright. Provedores de internet(ISPs) e sites como o YouTube e Flickr podem ser responsabilizados por conteúdos ilegais postados por seus usuários. E os ISPs,serviços de correio eletrônico e outros intermediários da internet irão ser obrigados a coletar e reter dados pessoais dos usuários por extensos períodos de tempo. Acadêmicos, lideres da sociedade civil e defensores dos direitos digitais se pronunciaram contra o projeto, argumentando que a lei pode interferir com os direitos civis, a liberdade de expressão e a privacidade dos cidadões brasileiros, restrigindo o uso da internet no Brasil.

Foto: Fórum Internacional de Software Livre 2011, Porto Algre. Por Anon DePlume. CC BY-SA

Pesquisadores do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas, uma das principais instituições de pesquisas em ciências sociais no Brasil, publicaram uma ampla análise chamando a atenção para os problemas no projeto de lei. Megao Não, um coletivo de ativistas de direitos digitais em acadêmicos que lutam por uma Internet livre e leis que garantam a plena privacidade, trabalharam com parceiros para compor a Petição de 2008, ilustrando os problemas no projeto de lei e convocando os legisladores para votarem contra ele. A petição enfatizou a importância de equilibrar os intereses da segurança no país com os direitos fundamentais e o vasta trajetória da sociedade da informação no Brasil:

Não defendemos o plágio, a cópia indevida ou o roubo de obras. Defendemos…liberdade de troca, o crescimento da criatividade e a expansão do conhecimento no Brasil. […] [Esse projeto] Projetos como esses…colocam o país definitivamente para debaixo do tapete da história da sociedade da informação no século XXI.

A petição recebeu mais de 160 mil assinaturas e levou os legisladores a realizar uma série de audiências públicas sobre o projeto de lei antes de permitir que  ele avançasse no processo legislativo. Ao falar no Forum Internacional de Software Livre em Porto Alegre em 2009, o então Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva falou a respeito do projeto de lei:

Essa lei não visa corrigir abusos na internet. Ela quer é fazer censura. Precisamos é de um código civil para determinar as responsabilidades na internet, mas não proibir.

Defensores Americanos da liberdade e privacidade na Internet, incluindo o Center for Democracy and Technology (CDT) e a  Electronic Frontier Foundation (EFF) também já levantaram suas preocupações a cerca deste projeto de lei.

A lei proposta irá destruir a maioria dos avanços positivos dos úlitmos anos nas políticas públicas de Internet no Brasil. Na gestão do Lula, o Ministro da Cultura e Cantor e Compositor Gilberto Gil trabalhou para o crescimento da Internet e deu suporte à programas baseados na rede para a expansão educacional e cultural no Brasil. O Fórum Internacional de Software Livre, Creative Commons, a Peer-to-Peer Foundation, e outros líderes inovadores em parceria com o Ministério da Cultura realizaram diversos eventos no Brasil, tornando  o país uma referência global de abertura na Internet.

Ao mesmo tempo em que acontecia tudo isso, o Ministério da Justiça elaborou um projeto de lei civil para regular a internet, conhecido como o Marco Civil da Internet. O texto do projeto está disponível em Inglês, Português e Espanhol. Elaborado por meio de uma ampla consulta pública (tanto online quanto offline) da qual participaram advogados, acadêmicos e defensores dos direitos civis na internet, o Marco Civil traz um equilíbrio entre o direito à liberdade de expressão e os interesses relacionados a privacidade e segurança. O projeto estabelece um conjunto claro de direitos e responsabilidade dos usuários, define fortes princípios de neutralidade da rede e protege os intermediários de serem responsabilizados criminalmente devido a conteúdos gerados pelos usuários. O Congresso ainda não votou o Marco Civil, que hoje tem menor prioridade, na pauta de votação, do que o Projeto Azeredo. Se os congressistas, no entanto, decidirem que é necessária uma maior discussão a respeito do PL 84/99, isso pode mudar.

Sob a nova administração da Presidenta Dilma Rouseff, que tomou posse em Janeiro de 2001, a nova Ministra da Cultura Ana de Hollanda sinalizou que não pretende seguir a agenda política do Gilberto Gil. Ela assustou a comunidade de direitos digitais, removendo a licença Creative Commons do site do Ministério já nos seus primeiros dias no cargo.

Como parte de sua parceria com o Centro de Tecnologia e Sociedade (CTS), O CDT publicou seus comentários sobre o PL84/99, analisando suas disposições sob leis internacionais e regionais de direitos humanos e comparando o PL 84/99 com a Convenção do Conselho Europeu sobre Cibercimes, que o Deputado Azeredo refere-se como “inspiração” para o projeto de lei. Os pontos principais do Memorando do CDTforam os seguintes:

  • PL 84/99 criminalizará a violação de uma “expressa restrição de acesso” a um computador, rede ou serviço online. A expressão usada no projeto de lei é tão ampla que poderia criminalizar as violações dos “termos de serviços” de sites e outros serviços online.
  • PL 84/99 criminalizará a obtenção ou transferência de dados de um sistema informatizado ou rede protegida por “expressa restrição de acesso.” Isto pode criminalizar atividades como compartilhar e transferir dados de um dispositivo ou sistema para outro.
  • PL 84/99 pode gerar consequências legais para intermediários – ISPs, provedores de hospedagem, ou plataformas para conteúdo gerado pelos usuários (web 2.0) – que facilitam, inconscientemente e não intencionalmente, a transferência “não autorizada” de dados ou a difusão de código malicioso.
  • PL 84/99 obrigaria intermediários para reter os dados do usuário para fins legais, uma medida que também interfere com o direito do cidadão à privacidade.

Na última década, a abordagem pioneira criada pelo Brasil para políticas digitais foi encarada por muitos países ao redor do mundo como um modelo para promover a inovação e a abertura online. O CTS e o CDT convocam os defensores dos direitos digitais no Brasil e em toda a América a fazer oposição ao PL 84/99 e para apoiar o esforço de legisladores e da sociedade civil brasileira para manter a vibrante sociedade da informação brasileira.

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